Chiquinha Gonzaga para mim é um caso "a parte" .. nos desencontramos no tempo..
Cheguei em 1.965 por aquí e em São Paulo, ela em 1.847 e no Rio de Janeiro, ainda com 300 mil habitantes..
Cerro meus olhos (eu Tom) e tento ouvir de forma suave "Atraente", e imaginar como éram as noites nos saraus, com música e boas companhias, em uma harmonia que só eles viveram.
E interessante que olho a lua e digo, lua, você viu tudo isto, você estava lá..
O mais interessante que causou alvoroço na época foi seu romance com um digamos, "garoto" 36 anos mais jovem..
Bom, no mais sem palavras ...
Hoje está enterrada no Cemitério do Catumbé no Rio de Janeiro, mas com certeza, ela não está lá.. nem resquício.. Está com certeza na Soberania do Universo, com sua suave sensibilidade como notas musicais, espalhadas pelo céu, junto as estrelas..
Noto que as estrelas não estão mais tão sós.. somente sós..
Quando noto as estrelas, penso: - Olhe as Gonzaguinhas, que lindas ..
Tom
Chiquinha Gonzaga (1847-1935), compositora e maestrina carioca eternizada pela marcha carnavalesca "Ó Abre Alas", passou a vida enfrentando preconceitos em nome da paixão pela música. Por ter se dedicado a uma atividade até então exclusivamente reservada aos homens, na conservadora capital federal da segunda metade do século passado, ela foi renegada pelos pais, desfez casamentos, ficou longe dos filhos e foi alvo de toda espécie de sátiras e piadas. Nada disso, contudo, a afastou do trabalho. Chiquinha compôs até as vésperas da morte, em 1935, aos 87 anos.
Foi a vida pessoal, entretanto, que reservou a Chiquinha os principais desafios, numa cidade com traços ainda provincianos - o Rio de Janeiro da época tinha pouco mais de 300 mil habitantes.Tudo indicava que Chiquinha seguiria o destino reservado às "moças de família". Casou-se adolescente com um marido aprovado pelo pai e, aos 16 anos, deu à luz o primeiro filho, João Gualberto. No ano seguinte teve Maria. Três anos depois, já seduzida pela música, decidiu separar-se do marido, que resistia à idéia de vê-la ligada ao mundo boêmio.
A separação provocou a ira do pai de Chiquinha, que a partir de então a considerou morta. Não a perdoou nem quando estava no leito de morte e a filha foi pedir-lhe a última bênção. Ao agir assim, José Basileu parece ter esquecido que ele próprio enfrentou o preconceito da sociedade para casar com Rosa, mestiça de classe social inferior à dele. Casamento que inclusive atrapalhou a evolução da carreira militar de Basileu, instruído bacharel em matemática e ciências físicas que falava latim, francês e inglês.
Apesar do precoce rompimento com a filha, Basileu ficará na história como o responsável pela iniciação musical de Chiquinha, ao presenteá-la com um piano quando a menina ainda não tinha dez anos. Aos 11, ela apresentou a primeira composição numa festinha familiar de Natal.
Longe dos pais e dos filhos, Chiquinha transformou os amigos do circuito boêmio numa nova família. Recebeu atenção especial do flautista Callado, criador do "choro" e reconhecido mulherengo, que a ela dedicou a polca "Querida por Todos".
Mas Chiquinha se lançou mesmo aos braços de João Batista de Carvalho Júnior, um autêntico bon-vivant com quem passou a morar. Em 1876, quando nasceu a filha Alice Maria, o casal decidiu se afastar da preconceituosa sociedade carioca e se mudou para o interior de Minas Gerais. Ao surpreender o amado com outra mulher, contudo, Chiquinha resolve mais uma vez arrumar as malas e mudar o rumo da vida. Deixou não só o marido como também a filha, que ainda não havia completado um ano.
A nova decepção amorosa parece ter revelado a Chiquinha que o matrimônio decididamente não era para ela. Partiu de vez para a carreira artística. Compondo e dando aulas, ela tirava o sustento do piano. Aos 30 anos, chamada de "cabocla estonteante" pelos colunistas sociais da época, Chiquinha era uma mulher livre, atraente e sedutora. Mas as calúnias, fofocas e piadinhas aumentavam na mesma proporção em que as polcas de Chiquinha se tornavam populares. As hostilidades se estenderam por pelo menos dez anos, entre 1877 e 1885, e só diminuíram quando ela passou a exercer a respeitável atividade de maestrina.
Em 1906, Chiquinha mudou-se para Lisboa, onde permaneceu por três anos. Voltou de lá unida a João Batista (Joãozinho Gonzaga), um rapaz 36 anos mais jovem que havia conhecido ainda no Rio. A convivência de uma mulher quase sexagenária com um homem no ardor dos 20 e poucos anos causou novo terremoto na sociedade carioca. João Batista foi companheiro fiel na velhice de Chiquinha, que assim se manteve forte para continuar trabalhando. Em 1933, aos 85 anos, ela escreveu a última partitura, "Maria".
Em 28 de fevereiro de 1935, uma das mulheres mais fascinantes que o Rio de Janeiro já conheceu finalmente encontrou a morte. Dois dias depois, 2 de março, sábado de carnaval, realizou-se o primeiro concurso oficial de escolas de samba. Encerrava-se assim um ciclo da música popular brasileira que teve em Chiquinha Gonzaga o principal expoente.