Introdução
Não existe nenhuma situação da qual não possamos tirar algum benefício. Por mais difícil que seja, sempre podemos vê-la com uma visão positiva.
Essa afirmação é resultado de uma experiência que jamais esqueço.
Há alguns anos tive sérios aborrecimentos com uma pessoa que nitidamente estava querendo o cargo que eu ocupava numa empresa. Durante seis meses ela me atormentou de tal forma que eu não conseguia pensar direito. Nessa época eu tinha iniciado a prática de meditação. Durante a visita de uma indiana muito mais experiente no caminho espiritual, aproveitei para contar-lhe a minha história.
Em quinze minutos relatei todos os fatos ocorridos. Depois, ela me olhou e disse:
-- Tudo foi benéfico, não foi?
Com uma expressão de desapontamento, retruquei:
-- Como assim? Nunca sofri tanto na minha vida e você diz que tudo foi benéfico? Não entendo e não aceito!
A conversa foi encerrada. O dia passou sob uma nuvem de confusão. Na manhã seguinte levantei cedo para meditar. Já tinha adquirido o hábito de começar o dia com 45 minutos de meditação. De repente, os principais fatos que marcaram o relacionamento tempestuoso com aquela pessoa desfilaram em minha mente. Só então percebi exatamente o que tinha aprendido. Em poucos minutos converti a enorme carga de mágoas em uma série de lições profundamente gratificantes.
Por exemplo, aprendi a ser mais tolerante, paciente e principalmente mais aberto. Adquiri uma autoconfiança tão grande que não posso mais voltar atrás. Não importa a situação, sempre há uma saída positiva.
Estamos vivendo momentos de grandes transições. A palavra crise parece estar nos lábios de todos. As crises econômicas, políticas, de relacionamentos e de valores assustam as multidões.
As incertezas e frustrações que cercam a vida neste final de milênio confundem muitas pessoas de tal forma que parecem não deixar espaço para respirar e muito menos para se recuperar suficientemente para poder enfrentá-las.
Os três relacionamentos principais - com o ser interior, com os outros e com a natureza - apresentam graves sinais de deterioração.
Ao contrário do que diz o senso comum, o ser humano, ao mesmo tempo em que consegue desvendar o fantástico poder do átomo e curar a mais persistente das doenças, não aprendeu a utilizar sua própria força interior para livrar-se da sua dor existencial.
Mas, apesar da situação mundial não estar tão bem, não devemos deixar de lado nossas aspirações e ideais mais elevados sem qualquer sinal de luta. Com um pouco mais de fé em nosso potencial interior podemos enfrentar e superar todos os obstáculos e viver esse momento não como o final de tudo, mas como um novo começo - uma celebração de uma mudança duradoura.
Na terminologia da visão positiva do ser, a transformação significa a derrota de tudo que é velho e inútil e a criação e fortalecimento de uma nova perspectiva.
Num mundo onde o ter é o critério das nações, ser ou não pacífico tem se tornado um questionamento que ganha cada vez mais força.
Recentemente, numa palestra na cidade de Limeira, interior de São Paulo, perguntei à platéia, de cerca de 150 pessoas, quais eram as dificuldades que mais as preocupavam: as políticas, as econômicas ou as dos seus relacionamentos. Todos, sem exceção, responderam que era o esforço de resolver problemas internos e de relacionamentos com outras pessoas que mais ocupa seu tempo mental. Os problemas de ordem econômica e política se colocavam em segundo plano. Chegou-se à conclusão de que se a mente está bem com ela mesma e com as pessoas da sua convivência, é mais fácil enfrentar as provas do dia-a-dia.
Há tantos problemas em simplesmente sobreviver, pagar as contas, ajustar-se às constantes mudanças, que em um momento nos favorecem e no próximo tornam qualquer planejamento sem sentido. Mesmo assim, para muitas pessoas não são os valores materiais os que mais as preocupam.
Hoje, busca-se outros valores. Se os anos setenta foram de grandes contestações e certo otimismo e os oitenta de desilusão, a década de noventa já se mostra como um período de profunda reflexão de valores. As questões ambientais e a ética política se destacam dentro desse contexto. Porém, dentre todas as crises, é a interior que deve ser resolvida.
Numa recente entrevista em Salvador, um repórter perguntou-me se o crescente interesse pelas "coisas metafísicas" não representava uma nova moda. Em hipótese alguma podemos dizer que a necessidade de paz interior é moda. A necessidade de paz é grande e imediata.
Contudo, há muitas coisas que merecem o epíteto de bruxaria. Quem vai a uma conferência sobre paz espiritual, nova era ou o novo misticismo, certamente se espanta com a deslumbrante variedade oferecida. Para encontrar um caminho que leve a uma experiência de benefício duradouro entre os charlatões, comerciantes espiritualistas e os que são realmente sinceros, é necessário um grande poder de discernimento.
Sempre buscamos saídas para as nossas crises internas. Ingênuos e exploráveis, assistimos a palestras, montamos bibliotecas caseiras e fazemos cursos na esperança de que algo ou alguém possa nos dar uma chave para que consigamos nos entender melhor.
Estive presente em uma conferência na qual o palestrante entrou em transe depois de cantar por 15 minutos em uma língua desconhecida. Falou em um idioma que parecia ser alemão durante meia hora. Os aplausos foram estrondosos. Só me pergunto quem, dentre os presentes, entendia aquela língua. O incomum impressiona, mas nem sempre traz elevação.
O ser humano tem tanto potencial dentro de si, mas, sem perceber, acaba acatando caminhos que enriquecem alguns e empobrecem o próprio intelecto que precisa endireitar-se.
Talvez isso aconteça porque não se sabe que as saídas estão dentro do próprio ser.
Por mais difícil que seja uma situação, alguém que possua mais clareza e calma sempre vai se sair bem. Entre dez pessoas que procuram o mesmo emprego, a mais tranqüila e objetiva tem mais chance de obtê-lo. Numa situação de extrema tristeza, quem mantém uma visão positiva de todo o contexto é capaz de manter-se suficientemente em paz para ajudar os outros.
O ideograma chinês que representa crise tem duas partes. A de cima indica perigo, e a de baixo oportunidade. Tudo que acontece pode me afetar negativa ou positivamente. Depende totalmente da maneira que penso. Por isso, as crises se tornam grandes oportunidades para encontrar saídas que passam a ter um valor duradouro. Cercado de dificuldades eu posso fortalecer-me a ponto de suportar as mais graves ameaças emocionais e materiais.
A visão positiva pode não colocar comida no estômago, ou resolver uma situação de calamidade, mas a lamentação também não resolve nada. A visão positiva, no mínimo, oferece mais opções.
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O que é o livro
Através de poesias, explicações, exercícios práticos, exemplos de situações e suas soluções, e usando as minhas próprias experiências, quero compartilhar com você uma mensagem muito simples:
A PAZ COMEÇA COM VOCÊ
Não é minha mensagem pessoal, mas algo que ecoa através da história da busca do ser humano para encontrar-se.
É uma verdade gravada no seu próprio coração.
O livro baseia-se nos ensinamentos milenares da Raja Yoga, que, dentre as linhas de yoga, se dedica ao desenvolvimento espiritual do indivíduo. É a ciência da elevação do ser.
Ele ensina como identificar seu próprio valor e qualidades, desenvolver o poder interno e aplica-lo na vida prática. Com a visão da própria potencialidade mais elevada, o indivíduo é capaz de vencer quaisquer obstáculos que surjam em sua vida.
Por considerar-se o responsável por criar paz dentro de si, o praticante assume a tarefa de imbuir a sua casa, local de trabalho, relacionamentos e compromissos com um ar de paz.
Não é difícil. Basta parar, olhar, sentir e contornar ou transformar qualquer circunstância.
Em 1975, eu estava buscando respostas às minhas perguntas existenciais. Havia visitado quarenta países e chegado à conclusão que os problemas da humanidade não tinham preferência por nenhum povo ou classe social.
Vi que a ganância dos ricos era aparentemente igual à dos pobres - talvez a única diferença era de quantidade, mas não de qualidade. O apego de uma mãe russa por seu filho era igual ao da mãe americana. O orgulho do muçulmano por sua religião era semelhante à do cristão. A vaidade do homem e da mulher por sua aparência física era a mesma. Enfim, os problemas pareciam ter uma natureza universal.
Assim, eu simplesmente pensava que deveriam existir soluções universais capazes de ser aplicadas a qualquer pessoa de qualquer cultura, idade, sexo, raça ou religião. Teriam que ser fundamentadas na lógica, e não em dogmas. Teriam de enfocar o espírito ou o ser do ser humano, e não os adjetivos que simplesmente descrevem o corpo ou a condição física.
Assim, continuava na minha procura além dos rituais, escrituras e guias espirituais.
Depois de passar vários meses em total reclusão e silêncio, na costa norte do Marrocos, voltei para Londres frustrado. Nem me afastando do mundo eu conseguia as respostas que tanto almejava.
Um dia, um amigo, que havia feito um curso de Raja Yoga, convidou-me a acompanhá-lo a uma aula matinal. Aceitei, e ao entrar na casa minúscula na zona oeste de Londres, imediatamente me defrontei com uma vibração de paz tão forte que parecia estar emanando das próprias paredes.
A senhora que conduzia as aulas era uma indiana de idade indeterminada. A paz e pureza vividas, evidentes nas suas palavras simples, me convenceram que ali, pelo menos, as pessoas eram o que falavam. Continuo estudando e ainda hoje me considero um aluno numa longa peregrinação de volta às minhas próprias origens.
Desse modo, conheci a Universidade Espiritual Brahma Kumaris, que passou a ser a fonte de uma profunda sabedoria para acompanhar a minha vida. Acabei me fascinando de tal forma com os ensinamentos sobre como criar e manter uma vida de paz que já estive 17 vezes na sede dessa Universidade, na pequena e remota cidade de Monte Abu, na Índia, para fazer diversos cursos.
Levando em consideração a essência de todas as filosofias e religiões e trabalhando basicamente com as técnicas e práticas do Raja Yoga, esta é uma Universidade no sentido lato da palavra, onde se estuda a relação ser humano - universo.
Foi fundada em 1936 por um mercador de diamantes e grande filantropo, Dada Lekraj. Conhecido por ser uma pessoa extremamente justa e correta, ele resolveu dedicar a sua vida para ajudar a elevar a humanidade. Aos 60 anos de idade, experimentou uma série de visões proféticas sobre a situação mundial no ano 2000 e depois.
Começou a reunir interessados em sua casa para meditar e entrar nas profundezas do conhecimento espiritual. Formou um grupo de base de cerca de 350 pessoas. Entre elas havia muitas crianças e foi necessário abrir uma escola onde a alfabetização incluía exercícios de meditação e um estudo profundo dos valores espirituais de uma vida equilibrada.
A sua visão, determinação e exemplo foram os grandes responsáveis pela evolução deste pequeno grupo em uma das mais importantes organizações espirituais da Índia. Hoje conta com mais de 1800 filiais espalhadas em 60 países.
Dada Lekraj, que passou a ser chamado Prajapita Brahma, foi um exemplo vivo das idéias que se encontram neste livro. Essas idéias foram recolhidas das suas aulas e diálogos e dos estudos e pesquisas de outros professores da Universidade Brahma Kumaris.
Os temas do livro representam mais a minha experiência como um aluno e professor de meditação e Raja Yoga e não simplesmente um apanhado de teorias sobre como conseguir viver em paz.
Como tudo na vida, é necessário um pouco de esforço para dar o passo inicial em direção à paz pessoal e depois dedicar uma atenção regular sobre o andamento do processo. Em pouco tempo é possível conseguir ótimos resultados.
Depois de ler este livro e aplicar alguns exercícios do último capítulo, palavras como "a vida é difícil, não agüento mais!" não serão mais pronunciadas.
A abordagem do livro não é para quem procura gurus ou espera por rituais ou explicações complicadas, porque todos somos alunos e professores uns dos outros. À medida que aprendemos, passamos a ensinar pelo próprio exemplo.
Que sua vida seja repleta de paz!
A Paz Começa com Você
Ken O'Donnel
http://www.bkumaris.org.br/publicacoes/paginas/medi_APaz.asp
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