Então quase noite de natal. Crianças brincando na rua. O chevette amarelo na garagem com o motor esquentando. A sala. A árvore. Luzes coloridas. A vitrolinha Delta tocando algumas músicas natalinas. Alguns presentes semi-abertos na estante de madeira. (não dele)
Oito anos. O dia não estava legal. Chuvoso. Televisão preto e branco passando um programa qualquer mas com o som baixo. Preparativos para a passagem na casa de parentes.
Derrepente um silêncio lá fora. Não havia mais barulho de carro. O menino sai. Olha por todos os lados e não vê ninguém.
Fora esquecido. Esqueceram-no.
E assim. Horas depois. Calção azul marinho, um tênis conguinha. Camiseta listras vermelhas. Olhos castanhos. Cabelos lisos. Abre o portão antigo com muita dificuldade. Sai pelas ruas sozinho. Já escurecendo.
Segue para o centro da cidade. E fica olhando as poucas vitrines que não estavam fechadas pelas portas de ferro. Noite. Garoa.
Encanta-se com as luzes coloridas das vitrines.
Nessa altura não percebe em pensamento que voltaram para buscá-lo após horas.
Mas ele não mais estava em casa.
E assim, segue o menino pelas ruas. Derrepente um pai em um carro. Várias filhos.
Uma família cruza com ele na rua.
Todos param e olham. Ficam espantados. O que aquele garoto estava fazendo sozinho naquela rua do centro da cidade sozinho? (Rua Quintino Bocaíuva)
Sim naquela época existiam pessoas humanizadas.
Presentes nas mãos. As crianças pegam e levam lhe doces. O pai chega perto e meio que tímido e zeloso pergunta: – Onde você mora?
O garoto responde, na rua. Como? Você não tem família?
Mas está bem limpo. Arrumado.
Não tenho. Mas vivo em um lugar.
Vamos levá-lo!
E assim após mostrar as ruas. Dificuldades. Chegam na casa.
E lá estão seus presentes preocupados no portão.
O que houve? O encontramos na rua. Vendo vitrines em um lugar semi-deserto.
E assim. O menino segue para seu natal. Na casa de parentes (outros presentes).
E lá fica esquecido em um sofá. Enquanto todos divertiam-se.
Mas ele não ficou chateado imagine!
Ele não tinha como ficar porque não sabia o que éra ser alegre.
(isso faz lembrar-me de A Hora da Estrela, Macabéa no que diz sobre ela saber ou não da vida que levava de forma que pudesse fazer comparações com o que é ser alegre ou não)
Levou seu livro. Monteiro Lobato. E assim, tocou seu natal na boa.
E terminou sua noite com um presente, um tênis kichute preto.
Dia seguinte, começa tudo de novo. Vida! perversa vida! (não mais perversa!)
Nunca perca uma oportunidade em fazer uma criança sorrir.
Ela não precisa ser seu filho ou filha.
Mas “esse carinha”.. tinha suas próprias armas.
Ele gostava de ler!!
Risos.
Tom Capella.
Por isso que esse menino para tudo por outras crianças.
E os que lhe tratavam assim?
Há.. ele tem uma tremenda compaixão. Um amor incondicional.
(O mais engraçado é que esse menino teve um escritório no mesmo prédio na Barão de Itapetininga e no mesmo andar o 13º, onde Monteiro Lobato, morou por um tempo e justamente quando mudou de lá, perdeu (o menino) uma caixa de livros que ele tinha, ficou por lá.. eu ví fui testemunha disso)
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