Diogo Moyses
De São Paulo
O frio do final de semana que passou me fez ficar boa parte do tempo em casa vendo tevê. Pulando de um canal ao outro, dei de cara com a dupla Estevam e Sônia Hernandes, que retornou ao Brasil após mais de dois anos de prisão nos EUA. Também topei, claro, com quase uma dezena de bispos, padres, pastores ou outros líderes religiosos que, por ignorância, não sei dizer bem o que são.
Lembrei-me, ou fui lembrado, da necessidade de discutir a presença cada vez maior das religiões na televisão brasileira.
O fenômeno não é novo, e nem privilégio nativo. Na maioria dos países isso acontece prioritariamente nos serviços por assinatura, a cabo ou por satélite. Quando ocorre na tevê aberta, como nos países da América Latina, em geral se resume a alguns horários ou poucas emissoras.
No Brasil, contudo, o fenômeno é endêmico. Igrejas, aos montes, são elas mesmas concessionárias de radiodifusão ou alugam períodos inteiros da programação de outras emissoras (o que é ilegal, diga-se, mas sobre isso falaremos em outra oportunidade). Mesmo emissoras públicas, como a TV Brasil e a TV Cultura de São Paulo, ainda possuem em sua grade de programação a transmissão de eventos religiosos.
O leitor sabe exatamente do que estamos falando e por isso não é necessário listar ou apontar casos concretos. Os exemplos são fartos e visíveis.
Cada um tem lá suas crenças. Também tenho as minhas. Mas isso não elimina a necessidade de perguntar, sem sectarismos ou fanatismos, se as religiões devem mesmo ocupar a televisão aberta. Caso a resposta seja positiva, devemos questionar se sua presença deve ser indiscriminada, como ocorre atualmente, ou baseada em certas regras ou determinações legais.
A defesa da programação religiosa possui um argumento não desprezível: o fato da religião ser também uma manifestação cultural e, como tal, merecer ampla divulgação, ou pelo menos não poder sofrer restrição.
Contra a programação de cunho religioso, no entanto, parecem estar os dois argumentos mais relevantes.
O primeiro é o fato da religião ser uma manifestação essencialmente privada, o que faz com que os telespectadores tenham o direito a que este tipo de conteúdo não invada a sua casa. Se entramos em templos ou igrejas por iniciativa própria, não parece correto que estes entrem em nossas casas sem a nossa autorização.
O segundo está ligado ao fato do Estado brasileiro ser laico, ou seja, não religioso. As concessões de televisão são públicas, outorgadas pelo Estado, o que faz com que estas não possam ser utilizadas para esse tipo de proselitismo, inclusive para evitar que se configure o favorecimento a esta ou aquela crença. O argumento é bastante forte, praticamente incontestável do ponto de vista jurídico e regulatório.
Mas o fato é que nada disso é observado no Brasil, como se a presença maciça das religiões fosse algo natural.
Vale lembrar, também, que a presença das igrejas é não só indiscriminada, mas também desigual. Algumas religiões, com ampla maioria para os evangélicos e católicos, ocupam as telas graças ao seu poder político (que faz com que consigam obter do Estado as concessões) ou em função de seu poder econômico (que permite a compra de horário em outros canais). Não à toa, religiões de matrizes africanas estão fora das telas.
Há que se considerar, evidentemente, que a própria programação religiosa é diversificada, com cultos e missas, conselhos por encomenda, sessões de descarrego e, inclusive, programas de debates.
O respeito à diversidade religiosa, contudo, não pode encobrir o fato de algumas igrejas ocuparem a televisão somente para ganhar dinheiro seduzindo telespectadores.
De qualquer forma, o problema é certamente complexo. Mas como enfrentá-lo?
Proibir as religiões na televisão aberta, como fazem alguns países? Ou construir regras capazes de garantir equilíbrio em sua ocupação?
A resposta não é simples e exige reflexão. Alguns caminhos parecem possíveis, como a adoção de critérios de classificação indicativa, onde certos conteúdos (como determinados cultos não muito leves, se é que vocês me entendem) não poderiam ser transmitidos nos horários em que os pais normalmente encontram-se fora de casa.
Outra possibilidade, complementar, seria reservar um canal exclusivo para as religiões, com alguns critérios de representatividade, para que sua ocupação aconteça de forma justa e não em função do poder político ou econômico das igrejas.
Por fim, parece importante restringir de forma radical determinados conteúdos, como os cultos que discriminam outras crenças e os que expõem as pessoas sem seu conhecimento.
Se o debate é complexo, uma coisa é certa: ficar do jeito que está, não dá.
Opinião complementativa
(eu sou do povo eu sou um zé ninguém)
Obviamente que será difícil combater. Tem muito dinheiro envolvido. Vaidades. Poder. Conexões diversas. A sociedade está corrompida e cada um pensando no próprio umbigo. A ignorância cultural está deveras gigante. Pessoas são manipuladas como gado. E parece que gostam, pensando apenas no carnê das Casas B.. Cada um vivendo sua própria venta e nem aí com ninguém. Educação falida. Professores apanham na sala de aula, vítimas de jovens de lares desajustados. Saúde nem precisamos comentar. Política, um verdadeiro circo. Arquivamentos, mais arquivamentos, e tempo e dinheiro público perdido, enquanto poderiam estar discutindo e resolvendo de fato o que realmente interessa para a sociedade que são ações concretas.
Dinheiro público mal aplicado. Armas proibidas (o que sou de acordo), mas a qualquer momento podemos cruzar com um delinquente armado nas ruas. Sem repressão pesada. Sem controle de fronteiras no sentido de ver por onde entram as armas. Policiais mal remunerados (eles tem família), discursos perfumados e permeados na hipocrisia de sempre. Muita conversa e pouca ação. Palavra hoje não vale nada em rede nacional. E existe uma “segunda” realidade das coisas, essas ocultas e não visíveis aos olhos da população. E nem me fale de pizzas, porque já estou partindo para uma dieta. Fora os complexos sociais de cada um, sectarismos, preconceitos, vazios existenciais, falta de ética no mercado de trabalho, sinceramente o homem está moralmente fracassado.
Engraçado são as homenagens à Euclides da Cunha na Assembléia de Patrícios, como se o povo não tivesse acesso a grande rede de informação ou as bibliotecas (falidas), ou seja, um mascaramento completo de como eu não vi nada, não estive lá (com a faca na mão), não fui eu e fui eleito pelo povo.
Enquanto essa turma vive o mundo da fantasia, Alice no País da Fantasia os hospitais estão cada vez piores, as periferias abandonadas, crianças sem cuidado, pessoas humildes maltratadas nos hospitais públicos, um descaso com a saúde, crianças nos faróis, enquanto outras são holofotes e a essas nada, nem controle, nem acompanhamento, apenas o sofrimento.
A realidade de nosso país é outra. Acredito que essa turma da Assembléia de Patrícios deveria acordar para a verdadeira realidade dos fatos e começarem a trabalhar de fato para as devidas mudanças. (reais)
Nos dá a sensação de bobos, como se a cultura viesse de lá e nós meros seres, com o vilimpendio no trato.
Temos excelentes professores que se fossem valorizados poderiam muito bem nos contar sobre Euclides da Cunha. É um circo mesmo, essa Assembléia de Patrícios, perderam a noção do ridículo! A hipocrisia impera e a falta de senso nos macula a alma.
Euclides da Cunha, talvez estaria se mexendo no túmulo e dizendo: – Esqueçam-me!
Tom Capella.
Observações insólitas!
Meu povo. Amo meu povo!
Grande exemplo para a sociedade, assim a marginalidade vai dizer o quê se temos os marginais de asfalto e muito mais de carpete?
Isso me faz lembrar de um filme “Matou a família e foi ao cinema”
Não! Meu nome não é povo. Afinal de contas tudo isso está em caráter “irrevogável”!
Enfim, não me tratem ou me chamem de “povinho” por favor!