Aquela estrada que parecia não dar para lugar algum. Eu ali totalmente isolado do mundo. Olhando o tanque ainda tinha combustível para rodar mais alguns quilômetros.
O som tocando The Cranberries - When You're Gone e meus pensamentos voando por algum lugar qualquer de meu presente ou passado. Sem pensar no futuro, no amanhã, apenas ali. Santiago do Chile. Para mim não importa se em 3 dias ali poderia ver ou sentir tudo. O que me fazia de tão bem era relembrar um tempo remoto.
Cheguei no Vila Franca, um guest house com alguns poucos quartos, administrado com zelo por uma senhora de nome Glória. Rua tranquila, apenas Cranberries no carro. O capô ainda quente. Parei no hotel, após meu check-in, segui a pé pelas ruas, sentia-me que em uma vila francesa.
Pérez Valenzuela, 1650 • Providencia • Santiago • Chile
Consegui resistir a tentação de acessar a internet pela wifi que o hotel oferece, e segui em passos desérticos.
Tudo o que queria naquele momento era um bom sanduíche de pão de forma recheado com tirinhas de carne e queijo derretido, lanche tradicional local.
Rostos anônimos. Pessoas. Estava eu ali programando meu dia seguinte, pois sairia do hotel as 5h00 da manhã para seguir estrada.
continua..
Tom Capella.
Enquanto isso.. (bom sono)

Santiago do Chile
5h00 - 9°C
Feito o check-out, sigo para meu carro. O motor ainda dormente, após algumas tentativas estou pronto novamente para seguir para meu destino: Vinha Anakena, situada aos pés da Cordilheira dos Andes, no alto Cachapoal no Valle del Rapel.
Após 40 minutos, paro meu carro novamente a beira da estrada e do nada começo a repensar minha vida. Ou meus momentos, ou os fragmentos de experiências passadas. Quando por vezes em outras épocas já dado como morto, não imaginaria que meus olhos pudessem um dia conhecer novas paisagens. Novos povos e culturas e pasme eu sozinho em um carro alugado indo em direção aos pés da Cordilheira dos Andes.
Um sonho possível. Um momento simples de singeleza e solidão altamente benéfica para que meu silêncio pudesse assim degustar um verdadeiro estado de graça que muitos vivem uma vida inteira e não conseguem vivenciar.
Após meu quase retorno de Vinha Anakena, sigo em nova direção para um lugar para mim muito especial:
Apesar do nome, é uma pequena cidade ao sul de Valparaíso, de onde saem ônibus para a cidade. A atração da cidade é a Casa Museo Pablo Neruda, de frente para o mar, onde o poeta se retirava constantemente para escrever seus livros.
Após ficar horas e horas olhando para o mar. Tentando ouvir que palavras poderiam adentrar meus ouvidos essas na expressão mais profunda da minha insustentável leveza do ser. De cansaço nada me fazia guarida, visto meus dias de silencio e uma introspectiva profunda nos meus mais profundos atos.
Tentava de certa forma voltar ao tempo e sentir através do meu coração e pensamentos o que poderia ali atingir-me como um suave toque de mansuetude que me levava a reverenciar nos meus mais sinceros desvelos para que permitisse a entrada suave da poesia no meu ser. No meu tenro ser.
Estava eu já totalmente envolvido pelo pastel de choclo, e de certa forma nem recordava mais de minhas origens, como se para mim a vida toda seria uma extensão de tudo o que percebia, nos detalhes, que o fosse do clima, das pessoas, da cultura local, dos mariscos, das noites quase que intermináveis.
Tenho notado que por vezes dessas viagens, tenho transformado-me constantemente e assim tenho me descobrido um novo homem, não mais a procura de si mesmo, mas um novo homem reconstruido sobre si mesmo, em cada nova descoberta das vidas que nos são permitidas viver através de pequenos momentos e paisagens que apenas enaltecem os mistérios da natureza e seu reflexo na alma humana.
Tom Capella.
Plaza de Arma
