Nesse por do sol, que insiste em permitir-me novamente a esperança.
Mesmo com as portas emerticamente fechadas, as janelas trancadas, ele me tolhe a alma, através das frestas da sensibilidade.
Por vezes repenso os tais momentos da existência sendo que a lucidez não mais permite espaço para nada acima desse algo tão normal, nessa anormalidade de fragmentos de cores e sonhos, sons, vozes, retratos preto e branco ou coloridos nos painéis da vida.
O que busco nem eu sei. Talvez seja o tal estado de graça. Um sopro talvez. Um acalento. Um carinho das coisas, um olhar, um toque de sinceridade, um soar das coisas.
Por vezes quedei-me, como um titã ferido desferido com sangue no asfalto tentei através dos joelhos erguer-me e não consegui.
Caí de costas sobre esse sangue tão vermelho como poderiam ser meus sonhos.
Senti por vezes a chibata do pelô. Senti os gemidos dos que sofrem. Senti os pregos da crucificação e a humilhação dos zombeteiros.
Senti minhas mãos agitadas como que com palavras de ira nos dedos, levantar-se e em meio ao turbilhão de sentimento de justiça, me fiz fera.
E das minhas feras eu grunhi. Eu gritei. Eu fiz gira.
Do meu sangue eu apenas senti como orvalhos, gotas de suor.
Fiz-me então de guardião. Tornei-me assim um misto de rosa e espinho, dor e amor. Solidão e multidão. Alegria e tristeza.
Misericórdia e impiedade.
Construí castelos, armas, fortes e segui com meus exércitos e não mais permiti-me ser humilhado.
Reverenciei os humildes!
Olhando-me no espelho, não vi mais meu rosto. Não senti semblante de sofrimento, alegria ou sensibilidade. Um vazio. Nada havia ali.
Pois meu nome agora é legião!
Tom Capella
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